sábado, 2 de janeiro de 2016

Resenha: Memórias Póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis (Luiz)!

     A obra “Memórias póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis é composta de 160 capítulos que – em sua grande maioria – tem entre duas e três páginas. Sua história não é linear, já que se trata de um livro de memórias, elas são contadas a partir do momento que vem a mente do autor. Logo, com momentos contínuos e outros com parágrafos criticando o capítulo anterior por ser desnecessário. Por isso, a análise aqui será voltada mais para os personagens e o sentimento de saudade.
       Logo ao início somos apresentados a um narrador que morre. Um defunto narrador/defunto autor que conta trechos de sua vida sem medir as palavras e a ironia. O livro não pretende ser um livro de comédia, mas arranca risadas do leitor pelas sacadas de Machado de Assis. Como no começo em que Brás Cubas escreve que era um homem ilustre e que no seu velório tinham onze pessoas vendo-o, mesmo em um dia de chuva. Uma pessoa famosa teria apenas onze pessoas em seu velório? Pois então, caro leitor, Brás Cubas não era um homem tão trabalhador, querido e bem visto como pensava ser. Todos sabem que modéstia não leva ninguém a lugar algum, mas o narrador concorda com isso em seu pensamento inconscientemente. Ao analisar de imediato sobre ele, pensa-se em um cara arrogante e cheio de preconceitos que não cabem à sociedade em que vivemos (século XXI). Exato, século XXI. Porém, o livro foi escrito há verões anteriores a esse que nos aproximamos. Pensando no contexto em que se passava a obra, Brás Cubas não fugia muito do senso comum. A diferença dele para os normativos talvez se desse que ele foi amante de uma mulher em sua vida.


O personagem é uma cópia daquilo que pior temos. É inseguro quando precisa tomar certas decisões, perde oportunidades de se fazer feliz, prefere viver na sua zono de conforto para crescer na vida, entre outras. Os problemas para o surgimento dessa cópia seriam três: 1º, o pai o criou com muita liberdade porque o queria ver feliz. Até o momento que viu que o filho gastava o seu dinheiro com uma prostituta constantemente, resolvendo mandar o filho estudar na Europa para tentar resolver o “problema”. 2º, é do caráter dele ser assim. Os astros estavam nessas posições quando ele nasceu logo ninguém poderá mudar sua pessoa. Ou, 3º, Brás Cubas é humano e tem defeitos como qualquer um. E como James Joyce escreveu seus personagens em Ulysses, o ser humano muda o modo de agir conforme o dia. Não somos constantes. Acordamos com um humor e dormimos com outro. Defendo a terceira teoria. Brás Cubas sabe seduzir quando é preciso, talvez essa seja a sua grande qualidade. Pois como ele mesmo diz ao fim de seu livro “ Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.”.



      Voltemos às memórias do narrador. Eduardo Lourenço, professor e filósofo português, discute em um de seus capítulos no livro Portugal como destino seguido de Mitologia da Saudade o sentimento de saudade, nostalgia e melancolia. A saudade não seria apenas recuperar o passado, mas acabar inventando ele. Ou seja, a saudade são cortes de trechos de nossa vida que não representam o cotidiano. Com isso, quero dizer que essas supostas memórias de Brás Cubas podem ter sido inventadas e/ou alteradas já que ao fim de sua vida ele acabava por delirar. Desconfio que fossem mentiras de Brás porque a possibilidade de escrever uma narrativa de memórias sem que aja alteração é muito possível, entretanto, porque ele omitiria algo se já estava morto? Pergunta a qual não posso responder e que ninguém além da memória de um defunto autor saberá algo por definitivo. Acabo aqui esta pequena análise de um personagem central, que tem uma vida sem grandes ações. Todavia, faz a façanha de escrever um livro após o último suspiro do corpo que o torna eternizado.

Fontes bibliográficas:

BIBLIOTECA DIGITAL e BANCO DE DADOS DE HISTÓRIA LITERÁRIA – NUPILL . http://www.literaturabrasileira.ufsc.br / HTTP://www.machadodeassis.ufsc.br.

BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira, Cultrix, São Paulo, 1973.

LOURENÇO, Eduardo. O tempo português. In.: _____. Portugal como destino seguido de Mitologia da Saudade. 4.ed. Lisboa: Gravita, 2011, p. 87-94.




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