A
obra “Memórias póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis é
composta de 160 capítulos que – em sua grande maioria – tem
entre duas e três páginas. Sua história não é linear, já que se
trata de um livro de memórias, elas são contadas a partir do
momento que vem a mente do autor. Logo, com momentos contínuos e
outros com parágrafos criticando o capítulo anterior por ser
desnecessário. Por isso, a análise aqui será voltada mais para os
personagens e o sentimento de saudade.
Logo
ao início somos apresentados a um narrador que morre. Um defunto
narrador/defunto autor que conta trechos de sua vida sem medir as
palavras e a ironia. O livro não pretende ser um livro de comédia,
mas arranca risadas do leitor pelas sacadas de Machado de Assis. Como
no começo em que Brás Cubas escreve que era um homem ilustre e que
no seu velório tinham onze pessoas vendo-o, mesmo em um dia de
chuva. Uma pessoa famosa teria apenas onze pessoas em seu velório?
Pois então, caro leitor, Brás Cubas não era um homem tão
trabalhador, querido e bem visto como pensava ser. Todos sabem que
modéstia não leva ninguém a lugar algum,
mas o narrador concorda com isso em seu pensamento inconscientemente.
Ao analisar de imediato sobre ele, pensa-se em um cara arrogante e
cheio de preconceitos que não cabem à sociedade em que vivemos
(século XXI). Exato, século XXI. Porém, o livro foi escrito há
verões anteriores a esse que nos aproximamos. Pensando no contexto
em que se passava a obra, Brás Cubas não fugia muito do senso
comum. A diferença dele para os normativos talvez se desse que ele
foi amante de uma mulher em sua vida.
O personagem é uma cópia daquilo que pior temos. É inseguro quando precisa tomar certas decisões, perde oportunidades de se fazer feliz, prefere viver na sua zono de conforto para crescer na vida, entre outras. Os problemas para o surgimento dessa cópia seriam três: 1º, o pai o criou com muita liberdade porque o queria ver feliz. Até o momento que viu que o filho gastava o seu dinheiro com uma prostituta constantemente, resolvendo mandar o filho estudar na Europa para tentar resolver o “problema”. 2º, é do caráter dele ser assim. Os astros estavam nessas posições quando ele nasceu logo ninguém poderá mudar sua pessoa. Ou, 3º, Brás Cubas é humano e tem defeitos como qualquer um. E como James Joyce escreveu seus personagens em Ulysses, o ser humano muda o modo de agir conforme o dia. Não somos constantes. Acordamos com um humor e dormimos com outro. Defendo a terceira teoria. Brás Cubas sabe seduzir quando é preciso, talvez essa seja a sua grande qualidade. Pois como ele mesmo diz ao fim de seu livro “ Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.”.
Voltemos
às memórias do narrador. Eduardo Lourenço, professor e filósofo
português, discute em um de seus capítulos no livro Portugal
como destino seguido de Mitologia da Saudade o
sentimento de saudade, nostalgia e melancolia. A saudade não seria
apenas recuperar o passado, mas acabar inventando ele. Ou seja, a
saudade são cortes de trechos de nossa vida que não representam o
cotidiano. Com isso, quero dizer que essas supostas memórias de Brás
Cubas podem ter sido inventadas e/ou alteradas já que ao fim de sua
vida ele acabava por delirar. Desconfio que fossem mentiras de Brás
porque a possibilidade de escrever uma narrativa de memórias sem que
aja alteração é muito possível, entretanto, porque ele omitiria
algo se já estava morto? Pergunta a qual não posso responder e que
ninguém além da memória de um defunto autor saberá algo por
definitivo. Acabo aqui esta pequena análise de um personagem
central, que tem uma vida sem grandes ações. Todavia, faz a façanha
de escrever um livro após o último suspiro do corpo que o torna
eternizado.
Fontes
bibliográficas:
BIBLIOTECA
DIGITAL e BANCO DE DADOS DE HISTÓRIA LITERÁRIA – NUPILL .
http://www.literaturabrasileira.ufsc.br /
HTTP://www.machadodeassis.ufsc.br.
BOSI,
Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira, Cultrix, São
Paulo, 1973.
LOURENÇO,
Eduardo. O tempo português. In.: _____. Portugal como destino
seguido de Mitologia da Saudade. 4.ed. Lisboa: Gravita, 2011, p.
87-94.
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