Boa noite, pessoas. Então, vim aqui hoje escrever um pouco sobre o livro Cinderela Pop, escrito pela Paula Pimenta (escrever sobre o escrito, pois é). Eu vejo o livro como voltado a um público que se encaixa entre 8 e 15 anos, portanto, como diz a Tatiana Feltrin do TLT “Eu vesti minha capinha” e li o livro. Não que eu esteja em uma distância muito grande da idade alvo, mas acho válida uma leitura com olhares diferentes sobre a obra. Pois bem, comecemos. Paula Pimenta está fazendo uma coleção de releituras das histórias de princesas. Primeiramente, lançou o livro Princesa Adormecida, a história de uma jovem que não sabia que era uma princesa e vivia fugida no Brasil com um nome diferente do seu de nascença, fugida de uma mulher má. Sim, estamos falando de Aurora, Malévola, como quiser chamar a história. Agora temos uma releitura de Cinderela. Eu nunca li o conto original, vi o filme em desenho da Disney quando eu era pequeno e algumas outras versões também adaptadas para o cinema, como Para sempre Cinderela e A nova Cinderela.
Em Cinderela Pop, a protagonista se chama Cintia e recebe uma reviravolta em sua vida. Em vez de Cinderela que teve seu pai morto quando ela ainda era uma criança, o pai de Cintia trai a mãe dela e faz com que ela more com ele, a madrasta e as duas enteadas. Curioso, não? Pois bem, as semelhanças e diferenças são bem interessantes. Cintia é muito amiga de sua tia Helena, de sua mãe e de Lara, uma amiga do colégio. Arriscaria dizer que o papel da fada madrinha aqui se divide entre a mãe e a tia que tentam fazer o máximo possível para ajudar a menina a concretizar seus desejos, sendo um deles fazer bico de Dj. Antes de falarmos de mais relações, vamos só dar uma passada rápida pela história. Cintia ficou muito irritada com a traição do pai e foi morar com a tia Helena por um tempo. Coisas acontecem e o colírio das meninas, o qual Cintia não gosta pelo o que conhece dele da mídia, acaba encontrando a adolescente em seu hobby favorito. Ser Dj. Porém, ele e ela estão com máscaras no momento e ela não o reconhece, depois, acaba se surpreendendo com a profundidade que um ícone teen pode ter.
Entre todas as cenas clássicas de Cinderela, temos as nossas favoritas. Nessas releituras deste conto eu acho interessante ver e pensar em como é aparência das atrizes que fazem a protagonista ou o retrato dito nos livros. Em Cinderela Pop, o tal príncipe encantado tem cabelo castanho, é branco e com olhos claros e na capa Cintia está sendo representada por uma menina loira em um vestido azul (sendo que a personagem nem gosta de usar vestido). Em A Nova Cinderela, Hillary Duff é a Cinderela, uma menina loira e branca e seu “príncipe” é um cara branco e de cabelo castanho claro. Percebe que segue um padrão de escolha na aparência destes personagens? Claro, há releituras de Cinderela com cabelo escuro na Disney também, mas vale ressaltadas quais foram as mais famosas. Detalhes estes que para alguns são meros detalhes e não fazem diferença, para outros podem ser causa de falta de autoestima durante um longo tempo. Com isso relaciono a questão de alisar o cabelo. Por que será que tantas pessoas negras e/ou com cabelos cacheados ou crespos se sentem feias e ficam horas no cabeleireiro para alisar o cabelo? As vezes são estas questões de representatividade que podem diminuir o bullying na infância.
E quem não se lembra da cena do sapatinho de cristal sendo deixado na escada do palácio real? Pois bem, em algumas adaptações invés de um salto é deixado um telefone, um mp3, entretanto, Paula Pimenta resolve colocar um All Star com os naipes de baralho pintados neles. Um tanto diferente e bem escolhido já que Cintia odeia usar salto alto e ama seus All Stars. Estas diferenças acontecem também em alguns questionamentos que a protagonista faz a si mesmo, como o fato de se apaixonar por alguém pelo primeiro contato. Ok, isso pode acontecer, mas é uma coisa muito rápida e não se chama paixão, e sim uma afinidade ou desejo grandes. Paixão é algo que se é construído com o tempo. Entretanto, no decorrer da história, Cintia acaba tendo daquelas paixões adolescentes calorosas pelo tal garoto. Outro problema que encontrei no livro foi que a protagonista só se sentia bonita o suficiente quando estava maquiada e com um vestido, sendo que ela não gosta de vestido e usa muito pouca maquiagem. Sim, eu também gosto de usar maquiagem, mas não ela que tem que me fazer sentir bonito. Todos somos bonitos, cada um tem que tentar aceitar suas diferenças e aprender a se amar, porque tudo não passa de um processo.
Curioso como a mídia pode influenciar na mente de uma adolescente, não? O tom de pele perfeito, a maquiagem como a única possibilidade de se ver beleza, os mais belos vestidos para uma festa de formatura, o corpo ideal, etc. São tantas as imposições que detalhes na capa do livro podem passar despercebido, como o fato de Cintia estar atuando com Dj já que seu equipamento está em um plano mais distante na ilustração. Pra quem se interessar na questão de empoderamento negro, aqui está um canal que eu gosto muito de assistir: https://www.youtube.com/channel/UCvu2MvWjNozGxCdRlY1034Q , Papo de Preta é o nome do canal regido por essas duas lindas mulheres negras, assista os vídeos delas caso não esteja entendendo muito bem o porquê de problematizar os padrões. Em resumo, eu gostei da leitura do livro. Como acredito que todos estamos em um constante processo de desconstrução, e a autora seria o grande exemplo deste processo. Desconstrói alguns esteriótipos e imposições, mas acaba que reforça outros mais problemáticos e enraizados na nossa sociedade. Se alguém se sentir incomodado, ofendido, ou quiser conversar comigo comente aqui embaixo para que eu possa desconstruir algo mais em mim ou mande uma mensagem no facebook do blog. Obrigado, um beijão e até a próxima.
“Mate-me quando quiser” é o primeiro romance da jornalista e mineira Anita Deak. O livro é dividido em quatro partes com capítulos sem numeração ou nomeação. A escritora demonstra um domínio curioso do uso de ironia em seu texto e na criação de elementos e estratégias narrativas para engajar o leitor. Os personagens - que no meu entendimento aparecem em número ideal para a estória - cativam o leitor ainda que, em sua maioria, não tenham nomes.
Temos o nome de três personagens durante o livro inteiro: Mário (o garçom), Soares (o matador) e Alynka (a mãe do “homem”). De início, confesso, que achei estranho essa opção da escritora, mas conforme a estória foi se desenvolvendo, criei uma nova opinião sobre o motivo disso dentro narrativa. No estilo de vida de nossa sociedade moderna e urbana, temos pouco tempo pra conhecer as pessoas que nos rodeiam ou conhecer os outros por nome, e por isso, muitas das pessoas que observamos e descrevemos no nosso dia-a-dia são apenas, o homem, a mulher, a loira, a morena, o carteiro, o cozinheiro, o porteiro, etc. A narrativa, portanto, representa o olhar do indivíduo urbano moderno sobre o outro em sociedade. Outra possibilidade tem base em um trecho do próprio livro onde discute-se um pouco sobre psicanálise. Nessas discussões percebi uma reação peculiar do personagem “homem” diante de alguns dos questionamentos feitos, e pude concluir que o narrador descreve os personagens da narrativa apenas pelas suas características como forma de privá-los de suas identidades. Bem, não consigo pensar em uma hipótese como a definitiva, mas espero ter compreendido o tom da narrativa.
É importante ressaltar que cada personagem é construído com pelo menos uma característica marcante. Soares, o matador, só aceitava trabalhos em que ele tivesse um prazo para estudar o alvo e decidir o melhor momento para matá-lo. “A mulher” encomenda a própria morte por não ter coragem de matar a si mesma e possui grande curiosidade pra conhecer e entender os outros como forma de distração (ao longo da narrativa descobrimos que ela é psicanalista e isso começa a fazer mais sentido). “A loira” sonha com uma vida de riquezas e confortos não alcança. “A morena” tenta sempre ver o lado bom de tudo mesmo em situações onde a maioria teria desistido.
A mudança gradual na personalidade de um mesmo personagem pode ser observada mas não acontece de forma que este se diferencie demais do seu “eu”. A mesma pessoa mostrando um outro lado de sua personalidade. Reprimir sentimentos, sensações, palavras, tudo isso isso pode fazer com que as pessoas aparentem ser alguém que não são. Essa questão é apontada, também, dentro do texto quando sugere que uma personagem não tem dupla personalidade mas sim está buscando uma válvula de escape para seu "eu" reprimido. Essa representação me lembra a relação entre Gollum e Smeagol, personalidade de um mesmo personagem de “O Senhor dos Anéis”, de J. R. R. Tolkien. Claro, a diferença entre os dois era nítida, eram duas personalidades totalmente distintas, mas no fundo era o mesmo ser. É essa a ideia transmitida pela personagem de Anita Deak.
Soares é apresentado como alguém bastante profissional e sério em seu trabalho, entretanto, há uma certa tensão em torno dele por ser quem terá que matar a mulher que encomendou a própria morte. O narrador, em determinado momento, diz “Era como se, para matá-la, Soares fosse obrigado a sair das sombras.”. Podemos entender isso como uma reflexão sobre pessoas que se consideram extremamente seguras e profissionais, mas que agem dentro de sua zona de conforto e segurança (ainda que um matador de aluguel esteja acostumado a estar fora de sua zona de conforto).
No fim do primeiro capítulo pode-se encontrar a seguinte a frase “[...] e se tal frase dá a entender o surgimento de um romance, ela diz mais sobre o leitor que a interpreta além do que está escrito.” e após acabar o livro percebo que a frase dá dicas sobre assuntos a serem tratados na obra. Tais como críticas ao ato de romantizar o cotidiano e a diferença de pontos de vista numa mesma história. Antes do encaixe da frase no parágrafo o narradorconduz os leitores mais habituados as histórias românticas à esperarem por uma situação semelhante, para então contestar essa possível conclusão e, simultaneamente, tirar o leitor de sua zona de conforto e deixá-lo instigado com a estória. O narrador prossegue dizendo o quão literal foi a sua sentença e complementa sua crítica ao romancismo com “Nem sempre a vida se resume com romances”.
“Se o narrador desse livro acreditasse em verdades, diria que uma delas é a de que a paixão emburrece.” (p 187). Aqui a escritora retoma seu questionamento sobre a visão romântica das coisas e em seguida conduz o leitor a uma visão prática da questão. A mistura do pensamento crítico e experiente de Soares com o senso comum em torno de situações românticas ou da paixão mostra para o leitor atento (expressão usada pelo narrador) que Soares não é um personagem muito diferente dos outros e por isso não deve ser idealizado. Ao mesmo tempo questiona o leitor sobre seus posicionamentos, e acaba por nos ligar mais à narrativa.
Desde o primeiro capítulo sabemos que “a mulher” sente vontade de entender e conhecer “o homem” que ela vê no restaurante e que pede a mesma comida que ela. Entretanto, o leitor sabe que não há nenhum tipo de relação entre eles. É interessante pensar como a escritora mexe com os pontos de vista das cenas, fazendo a curiosidade da personagem parecer ser uma busca por um amor vista de fora com um olhar questionável. E é a partir desse pensamento que vemos a relação com o primeiro capítulo em que há a contestação no modo de enxergar as coisas de forma romantizada. Não que essa visão não deva existir, mas ela pode servir de base inicial para desconstruções e comparações com outras obras. O jogo de pontos de vistas é algo muito importante num livro que tem investigação dentre seus temas.
O jogo de palavras fazem cenas serem reveladas ao fim de capítulos e trazem uma mistura de surpresa com comicidade que é um dos motivos de fazer esse livro muito rico. O narrador consegue inverter papéis de personagens como o de uma criança e o de um adulto com uma simples bala e a força de uma memória.
“Ao passo que a mãe sonhava ardorosamente com aquilo que não tinha, a menina sentia dor pelos dentes permanentes que começavam a nascer, roubando-lhe espaços da boca. Uma lamentava a falta, a outra, a transformação que impunha o tempo. Ambas, no entanto, estavam unidas pela dificuldade em aceitar o presente como ele é: Sem sorte e com dentes afiados.” (p 51)
Ao ler o trecho acima percebemos a ironia usada pelo narrador para descrever a cena. Ele dá a entender que ambas as personagens estão em uma situação desconfortável. Em “Uma lamentava a falta, a outra, a transformação que impunha o tempo. ” uma atribuição pensável para esse trecho se relaciona com a falta de algo que a mãe sentia pois tinha sonhos não concretizados. Entretanto, vamos ver esse trecho de forma mais ampla. A agonia da menina que tem os dentes permanentes crescendo é escrita por eles roubarem o espaço em sua boca. Ou seja, podemos alegar que a sentença inteira descreve tanto a situação da mãe, quanto a da filha. Já que ambas sofrem por não aceitarem seu presente e por lhes faltar algo. Para filha o espaço na boca, para mãe os sonhos distantes.
“E antes que pudesse se recompor para então acercar-se dela, perguntando se desejava ajuda, percebeu que ela sequer notara a sua presença.” (p 54). O narrador utiliza de uma refinação que faz percebemos alguns detalhes quando nos é apontado, como é o caso dessa marcação em que o personagem demora pra identificar que o outro não está o vendo. E sabe qual é o problema? Nenhum, essa é uma representação da modernidade em prática. As pessoas estão vivendo em um mundo que exige velocidade (seja nos meios de comunicação, de locomoção e de alimentação) delas, e acabam que não “perdem tempo” prestando a atenção nos outros. Porque as pessoas estão tão atarefadas com preocupações e coisas pra fazer que o simples fato de dar um “oi” pode ser considerado desnecessário. Assim como gravar nomes aleatórios já que é tão mais prático chamar de “o homem” ou “a mulher”.
Algumas semelhanças narrativas entre Anita Deak e Machado de Assis podem ser encontradas facilmente nessa obra. O narrador dialoga com o leitor e chama-o para dentro do texto, como nas expressões “deve perguntar o leitor mais atento[...]”(p 187) e “[...] insistiria o leitor dado a picuinhas.”(p 188) e outras similares às que Machado de Assis usou em Memórias Póstumas de Brás Cubas. Além disso, ambos os escritores fazem uso de capítulos curtos, o que acaba deixando a leitura mais dinâmica e fluida. Por consequência, pede que o escritor tenha um domínio maior da escrita pra concluir a ideia em menos espaço textual. Machado de Assis faz isso gradativamente conforme vai escrevendo romances em sua vida, sendo os seus últimos livros os de capítulos menores. Conforme ele vai amadurecendo sua escrita, o tamanho de seus capítulos vão encurtando.
O narrador também é mencionado diversas vezes como forma de quebrar o plano de visão do leitor e fazer com que ele enxergue a narrativa de outro angulo. Tente imaginar uma cena, como se você estivesse vendo por uma câmera de cinema. Agora essa cena está um pouco mais afastada e você está conseguindo ver alguém narrando ela e os atores ficando confusos com a voz ali presente. De certa forma, é isso que acontece. Porém, os confusos são os leitores não acostumados com esse estilo de escrita. A mudança de planos na narrativa é semelhante a escrita teatral de William Shakespeare, em Sonho de uma noite de verão, em que o personagem Puck (ou Bute, como foi traduzido pro Brasil) quebra esse plano de visão mexendo na interação entre personagens e cena. Os cenários finais de encenação teatral, por exemplo, apresentam essa ruptura feita por William Shakespeare.
A inversão de alguns valores conservadores e tradicionais carregados de machismo apresentados nesse livro são interessantes para [re]pensar a estrutura da sociedade brasileira. Como no seguinte trecho em que a esposa manda o marido passar uma roupa dela e ele responde dizendo que não sabe passar e “a loira” responde irritada e o questiona. Não se deixando inferiorizar por ser mulher e estar em uma posição de minoria em relação ao homem. Leia:
“- Você já passou meu vestido?
Mas eu não sei passar roupa…
E você acha que eu sabia passar alguma coisa quando me casei com você? Vai, levanta logo dessa poltrona. Passou da hora de você aprender a fazer alguma coisa útil aqui dentro.” (p 202)
O simples fato dela ser sua esposa e mulher faz com que ele pense que ela nasceu sabendo fazer as atividades de casa e está ali para lhe servir. Assim como sua mãe fazia quando era viva. Entretanto, “a loira” pensa e vê alguns costumes tradicionais de uma sociedade heteronormativa e machista de outra forma. E como está infeliz com sua vida, não perde a oportunidade para contestar o marido.
A parte mais profunda, pra mim, é a parte quatro do livro. O narrador considera “a mulher” uma invejosa, heroína, vítima, vaidosa e arrogante ao mesmo tempo, mostrando que na realidade depende do prisma que você a está olhando. Critica o próprio ato de criticar que, por sinal, é algo que tento fazer há um tempo. Pensar nas críticas do ponto de vista que elas partem e se elas são realmente válidas e verdadeiras, se escondem alguma frustração ou outro sentimento/sensação por debaixo da mesa. Como escreve o narrador “Dolorosamente, no chão de carpete, ela chegava à conclusão de que julgar era uma forma de montar na própria cabeça o pior cenário. E acreditar nele até o fim.” (p 225). Não quero dizer que não devemos ter uma visão crítica sobre o mundo, muito pelo contrário, mas temos que saber usá-la. Porque se usada com o seu olhar focado no centro pode acabar perdendo toda a grandiosidade de visões que estão ao redor. E, caro leitor, você não vai querer perder isso. A pessoa que vê as coisas com base exclusivamente em seu modo de enxergar o mundo pode, com o tempo, perder laços, sensações e experiências com pessoas que sabem que estão sendo julgadas a cada gesto.
De um lado mais emotivo digo que a vida pode ser triste. Mesmo sem saber, “a mulher” mudou o seu destino pelas entrelinhas. Assim como o narrador conta que as reticências podem mudar o significado de algo pois o leitor pode interpretar coisas não ditas. Soares entende algo dito que, de certa forma, se concretiza no futuro, não da forma interpretada por ele, mas sim, com motivações semelhantes. Como as peças de um lego. Quando montadas continuam sendo as mesmas, mas não estão dispostas da mesma forma. O matador viu um triangulo amoroso no simples encontro e desencontro, “o homem” viu a normalidade e a incerteza, “a mulher” viu a vida e a morte, “a morena” o fim do otimismo e “a loira” viu o dinheiro e o desespero. Em momentos eu chego a concordar com os pensamentos da “mulher” sobre a vida, porém, percebo que ela está dentro de sua cabeça e não mais enxergando nada. Está aterrorizada com o que acontece a sua volta. A ironia do último capítulo é tão bem usada que pode passar por despercebida e te convencer a fazer qualquer coisa. Anita Deak, muito obrigado por escrever, publicar e mandar pra gente um exemplar do seu primeiro romance. Eu, sinceramente, amei ele.
Book trailler sobre o livro: https://www.youtube.com/watch?v=pFQf7ax0BHc
Sugestão de reenha: https://www.youtube.com/watch?v=FYKFzNjncgs
Referências citadas:
ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. Ed Especial - Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014.
ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Prefácio de Hélio Guimarães; notas de Marta de Senna e Marcelo Diego. 1ª ed - São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2014.
SHAKESPEARE, William. Sonho de uma noite de verão. Tradução de Beatriz Viégas-Faria - Porto Alegre: L&PM, 2001.
TOLKIEN, J. R. R. O Senhor dos Anéis. 2ª ed - São Paulo: Martins Fontes, 2000.
Eu sei que parece bizarro e muitos vão achar tolo, mas cara, essa apresentação mexeu muito comigo. Eu sinto dores com ela, sinto lágrimas, sinto sensações, sinto vontade de berrar, sinto muitas efeitos diferentes. Algumas pessoas sabem que eu tenho um feeling pela voz da Christina Aguilera e em algumas apresentações dela eu pulo/berro/choro/canto/me debato muito feliz por se envolver com tudo. Eu já ouvi essa versão dela da música “Mother”, de John Lennon, algumas vezes hoje e sempre que ouço é uma emoção diferente. Para os que não sabem, quando Aguilera era criança ela sofria agressões psicológicas do pai e a mãe sofria agressões físicas também. Eles se separaram, a mãe dela fugiu com a menina pra casa da vó de Christina e ela foi criada lá até uma certa idade. Enfim, o que quero dizer é que a letra dessa música da maneira como ela cantou assim me faz chorar. Ela não precisou forçar um choro nesses três minutos de apresentação nem fazer notas vocais exageradas para me emocionar e me deixar eufórico. Geralmente eu fico muito louco com os vocais dela, mas esses são tão específicos e harmônicos que eu não consigo não escrever sobre isso para deixar registrado em algum lugar. Eu não sei se você, leitor, consegue sentir esses efeitos que eu sinto ou consegue ver o quão profundo foi essa interpretação na minha visão. Deu uma dorzinha aqui dentro ouvi e ver ela pela primeira vez no fone de ouvido bem alto.
Bem, esse foi um pequeno desabafo de um fã ansioso para o lançamento do CD novo. Espero que eu tenha conseguido transmitir algumas sensações pra vocês. Obrigado por ler esses dois parágrafos de palavras e signos.
Obs: As notas de rodapé foram colocadas após a resenha e antes das referências.
O
livro Dom
Casmurro é
constituído de 148 capítulos e uma narração composta por um
personagem complexo. Tão complexo que apenas seu ponto de vista é
narrado através de três pessoas diferentes nomeadas conforme a sua
idade. Uma hora intitula-se Bentinho, outra Bento, e, por fim, Dom
Casmurro. O primeiro é uma criança inocente que vê Capitu apenas
como uma grande amiga. Já Bento percebe que gosta mais da jovem do
que como amigo, mas tem ciúmes de amigo por ela. Nada muito “sério”
(piadas
à parte).
Com Dom Casmurro é diferente, após a tragédia do capítulo CXXI
Bento se torna amargo e perde o juízo da realidade. Começa a ficar
neurótico com atos da mulher e chega a ponto de quase matar o
próprio filho. Ele, Casmurro, é responsável por contar a história
de uma suposta traição desenvolvida por Capitu e Escobar.
Entretanto, o que faz o leitor acreditar nessas desconfianças se o
próprio narrador se diz com memórias falhas e está em pleno
delírio (Quincas Borba) ao escrever estes relatos?
Dom
Casmurro nos apresenta cada personagem com um capítulo exclusivo ou
uma grande parte deste. Somente no fim do romance é que se pode
perceber o quão influente e profunda a narrativa com esses
personagens se torna. Não pretendo me alongar muito na descrição
de todos, somente naqueles que regem a trama principal. O laço que
você, caro leitor, pode criar com cada um deles é
surpreendentemente imperceptível e … doloroso. A começar por D.
Glória, mãe de Bentinho. Uma mulher católica que no nascimento do
filho faz uma promessa de que quando crescesse se tornaria padre.
Aparenta ser uma mulher decidida e que não incomodaria muito os
homens da época pela sua rebeldia, contudo, desde o início do
enredo ela cria o seu filho sozinha1
já que o marido havia falecido.
Citando
o agregado, porque não falar do homem que ama usar superlativos em
sua vida. José Dias, homem que acompanha a família até quase o
desfecho da história e que tenta ajudar Bentinho de algumas formas
durante a sua vida. Machado de Assis construiu esse personagem de tal
modo que quando se está envolvido em uma cena e José Dias começa a
falar, colocando um superlativo na sentença, as chances do leitor se
animar são bem prováveis. Com o passar das páginas a história
fica cada vez mais melancólica que a tensão de algumas cenas só se
é quebrada por esse personagem singular. Até mesmo em momento de
tristeza para o leitor ele utiliza suas palavras amadas. Tais como a
sua última: Lindíssimo. Digo que ele é o tipo de pessoa que você
convida a entrar em casa, serve um café e não quer deixar de
conversar tão cedo. Porque sabe que José Dias vai lhe dar conselhos
úteis ou aliviar a tensão do clima, na pior das hipóteses vai lhe
falar um superlativo majestosíssimo.
Com
olhos de ressaca, Capitolina (Capitu) se mostra uma mulher empoderada
e decidida. Ela aparenta mirar um caminho e lutar com o máximo de
estratégias que conseguir até alcançá-lo. No caso, seu objetivo
seria conseguir independência econômica e sem muito esforço. Ou
seja, precisava de um marido rico para lhe garantir as duas coisas e
depois poderia viajar e viver o quanto quisesse e sem preocupar com
os outros e as despesas. É uma mulher segura, isso é mostrado em
alguns trechos em que quem vive a cena é Bento, como àquelas em que
ela engana D. Glória dizendo que Bento seria um bom padre no futuro.
Isso para esconder que os dois, supostamente, se amavam. Mal sabiam
eles que estava tudo planejado na cabeça dela para ter um futuro
seguro e estável. Não que ela não amasse Bento, mas as vezes a
máscara estratégica subia-lhe a cabeça.
De
que bastam estratégias
para segurar Bento se existia um terceiro. Escobar. O título do
capítulo CXIII, Embargos
de um terceiro, poderia
ser uma metáfora para dizer que havia um terceiro na relação entre
Bento e Capitolina. No caso, o terceiro elemento seria Escobar. Um
homem que Bento conheceu no seminário, que abraçou, que acariciou
os braços, que descreveu os olhos, que supostamente … amou. Ao
apalpar os braços de Escobar, Bento sente algo diferente que diz ser
inveja, mas será mesmo?
— Tenho
entrado com mares maiores, muito maiores. Você não imagina o que é
um bom mar em hora bravia. É preciso nadar bem, como eu, e ter estes
pulmões, disse ele batendo no peito, e estes braços; apalpa.
Apalpei-lhe
os braços, como se fossem os de Sancha. Custa-me esta confissão,
mas não posso suprimi-la; era jarretar a verdade. Não só os
apalpei com essa idéia, mas ainda senti outra coisa; achei-os mais
grossos e fortes que os meus, e tive-lhes inveja; acresce que sabiam
nadar. (ASSIS,
Machado de. Dom Casmurro; - [Ed. especial]. Capítulo CXVIII; A mão
de Sancha;
P 162)
Continuando
essa linha de pensamento, vamos a Dom Casmurro. Ele é o responsável
por descrever a história do começo ao fim, mostrando ao leitor as
grandes diferenças na sua personalidade e algumas semelhanças que
os anos escondem. Ou não. A sua fixação pelo ciúme com Capitu
cresce aritmeticamente até o momento que seu melhor
amigo,
Escobar, morre. Após essa catástrofe – como ele escreve no livro
–, o crescimento transforma-se automaticamente em P.G. (progressão
geométrica)2
essa loucura. Como confiar em um escritor que deixa indícios na
narrativa que não tem palavra. Ele próprio escreve “É que tudo
se acha fora de um livro falho, leitor amigo. Assim preencho as
lacunas alheias; assim podes também preencher as minhas.”
(ASSIS, Machado de. Dom Casmurro; - [Ed. especial]. Capítulo LIX;
Convivas
de boa memória;
P 91). Uma pessoa que se faz de promessas não cumpridas pode
realmente contar uma parte da história de sua vida com total
fieldade? Ou gerar a dúvida da famosa suposta traição que poderia
ser uma máscara para reprimir uma paixão por outra pessoa. Por um
homem. No trecho a seguir ele escreve que desde pequeno não era um
homem de palavra.
A
soma era enorme. A razão é que eu andava carregado de promessas não
cumpridas. A última foi de duzentos padre-nossos e duzentas
ave-marias, se não chovesse em certa tarde de passeio a Santa
Teresa. Não choveu, mas eu não rezei as orações. Desde pequenino
acostumara-me a pedir ao Céu os seus favores, mediante orações que
diria, se eles viessem. Disse as primeiras, as outras foram adiadas,
e à medida que se amontoavam iam sendo esquecidas. Assim cheguei aos
números vinte, trinta, cinqüenta. Entrei nas centenas e agora no
milhar. Era um modo de peitar a vontade divina pela quantia das
orações; além disso, cada promessa nova era feita e jurada no
sentido de pagar a dívida antiga. Mas vão lá matar a preguiça de
uma alma que a trazia do berço e não a sentia atenuada pela vida! O
Céu fazia-me o favor, eu adiava a paga. Afinal perdi-me nas contas.
(ASSIS, Machado de. Dom Casmurro; - [Ed. especial]. Capítulo XX; Mil
padre-nossos e mil ave-marias;
P 37)
Ele
via todos, e ao mesmo tempo, não via a si próprio. Era uma confusão
pois pensava que estava normal. Foi quando se deu conta que os outros
eram muito parecidos com a aparência dele naquele momento, porém
não eram a sua essência. O jovem tira a máscara do momento que
engana a sua percepção do mundo e volta a ver a realidade que um
dia estava clara e desmascarada perante seus olhos. Talvez essa
realidade poderia ter sido eterna se ela não se deixasse enganar
pelas máscaras e pelos estranhos pontos de vista de uma história
confusa. Se as máscaras são os padrões, o homem ver todos iguais a
ele e todos se veem iguais. Cada um com a sua perspectiva de mundo.
Porque nada é mais embaraçoso para uma máscara padronizada do que
um conjunto de máscaras iguais a ela. Como se a vida fosse uma
interpretação dos romances escritos e não o contrário. A
diferença se dá no término do horário e ao mesmo tempo a
semelhança. Pois se o término for uma conversa, a máscara
padronizada continua após seu fim. Entretanto, se o término for a
morte, após ela a máscara é caída e restará apenas uma dicotomia
opressora. O morto será bom ... ou ... mal3.
Com isso explico a neura de Dom Casmurro com a suposta traição. Ele
constrói ao leitor uma visão de Capitu que mostra ela como um morto
mal, em que ela convence Bentinho e Bento de fazer coisas que ele não
faria em situações normais. Ela o faz usar uma máscara que acaba
sendo absorvida já que ele é um tolo apaixonado. A obra acaba por
ter seu assunto centrado no jogo de
máscaras. Sobre adotar o rosto (o visual, o comportamento, as
ideias, a aparência, os modelos, os padrões, os valores) que a
sociedade impõe. Sobre vestir a máscara que é socialmente aceita,
que é aplaudida e elogiada e privilegiada, mas que, simultaneamente,
esconde o verdadeiro rosto de cada um. Exemplificando, retorno ao
primeiro parágrafo desta resenha em que disse que há um personagem
dividido em três pessoas (Bentinho, Bento e Dom Casmurro). Bentinho
seria o ser livre de máscaras já que é a lembrança vívida de sua
infância. Segundo Eduardo Lourenço (2011), é no sentimento de
saudade relacionado à memória que guardamos nossas melhores
lembranças. Principalmente as de quando éramos crianças, pois o
que vemos são flashes
de
alguns momentos da vida e não o cotidiano. Logo, a distorção dos
fatos é algo esperado.
Defendo
a teoria de que a relação de Dom Casmurro era composta de um
triângulo amoroso entre ele, Capitu e Escobar. Mas não como ele
aparenta abordar (ele sendo o traído), e sim o casamento dele com
Capitu e o romance desde o seminário com Escobar. Se o leitor voltar
a ler com cuidado perceberá que após a morte de seu melhor amigo,
Bentinho fica mais amargo, frio e louco. A frieza com que ele fala de
algo seja o que for e com quem for é uma forma de se distanciar de
algo que o machuca, uma forma de se distanciar desse sofrimento da
perda do amigo/antigo namorado. De se colocar, linguisticamente (e
portanto, psicologicamente) longe e desconectado desse sofrimento
específico. Assim, não sentido e tornando isso um mecanismo de
defesa quando se não se quer permitir sofrer ou ser afetado por
algo.
Por
fim, respondendo a clássica pergunta feita pelos professores de
literatura do Ensino Médio referente à traição, particularmente,
entendo a obra como um jogo complexo de máscaras que possibilita
diversas teorias diferentes. Entretanto, após algumas evidências
prefiro defender a presença de um teor de loucura que faz com que a
crença no narrador não seja fácil. A mesma loucura que atacou
Quincas
Borba (humano) e Rubião4
acaba por atacar Dom Casmurro. Contudo, o motivo é outro. Aqui, ele
aparenta ser a perda de seu grande e estimado amigo.
Notas:
1. Sozinha não é a palavra que melhor define a situação dela pois tinha pessoas que ajudavam na criação, como José Dias. A palavra está sendo utilizada mais no sentido de não ter o apoio moral/social do marido ao seu lado.
2. Progressão Aritmética seria quando algo cresce a partir da soma, de um em um. Logo, é um crescimento lento e gradual. Já na Progressão Geométrica o crescimento é a partir da multiplicação, ou seja, 2; 4; 8; 16 … Assim, após a morte de Escobar a cabeça de Dom Casmurro perde-se a cada capítulo com mais frequência e mais força chegando a loucura que é a narração deste livro.
3. Referência ao romance de Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás cubas, em que o protagonista conta a sua vida após a sua morte. Teoricamente sem ter medo de falar algo indevido, já que a vida é algo tão vago para ele no momento.
4. Referências aos romances Memórias Póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba escritos por Machado de Assis em tempos diferentes mas que alguns colegas defendem como uma trilogia, considerando Dom Casmurro o terceiro volume
Referências
Bibliográficas
ASSIS,
Machado de. Dom Casmurro; - [Ed. especial]. - Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2014.
ASSIS,
Machado de. Obra Completa, Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1994.
BIBLIOTECA
DIGITAL e BANCO DE DADOS DE HISTÓRIA LITERÁRIA – NUPILL .
http://www.literaturabrasileira.ufsc.br /
HTTP://www.machadodeassis.ufsc.br.
LOURENÇO,
Eduardo. O tempo português. In.: _____. Portugal como destino
seguido de Mitologia da Saudade. 4.ed. Lisboa: Gravita, 2011, p.
87-94.
LOURENÇO,
Eduardo. Romantismo, Camões e a saudade. In.: _____. Portugal como
destino seguido de Mitologia da Saudade. 4.ed. Lisboa: Gravita, 2011,
p. 143-154.
A
obra “Memórias póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis é
composta de 160 capítulos que – em sua grande maioria – tem
entre duas e três páginas. Sua história não é linear, já que se
trata de um livro de memórias, elas são contadas a partir do
momento que vem a mente do autor. Logo, com momentos contínuos e
outros com parágrafos criticando o capítulo anterior por ser
desnecessário. Por isso, a análise aqui será voltada mais para os
personagens e o sentimento de saudade.
Logo
ao início somos apresentados a um narrador que morre. Um defunto
narrador/defunto autor que conta trechos de sua vida sem medir as
palavras e a ironia. O livro não pretende ser um livro de comédia,
mas arranca risadas do leitor pelas sacadas de Machado de Assis. Como
no começo em que Brás Cubas escreve que era um homem ilustre e que
no seu velório tinham onze pessoas vendo-o, mesmo em um dia de
chuva. Uma pessoa famosa teria apenas onze pessoas em seu velório?
Pois então, caro leitor, Brás Cubas não era um homem tão
trabalhador, querido e bem visto como pensava ser. Todos sabem que
modéstia não leva ninguém a lugar algum,
mas o narrador concorda com isso em seu pensamento inconscientemente.
Ao analisar de imediato sobre ele, pensa-se em um cara arrogante e
cheio de preconceitos que não cabem à sociedade em que vivemos
(século XXI). Exato, século XXI. Porém, o livro foi escrito há
verões anteriores a esse que nos aproximamos. Pensando no contexto
em que se passava a obra, Brás Cubas não fugia muito do senso
comum. A diferença dele para os normativos talvez se desse que ele
foi amante de uma mulher em sua vida.
O
personagem é uma cópia daquilo que pior temos. É inseguro quando
precisa tomar certas decisões, perde oportunidades de se fazer
feliz, prefere viver na sua zono de conforto para crescer na vida,
entre outras. Os problemas para o surgimento dessa cópia seriam
três: 1º, o pai o criou com muita liberdade porque o queria ver
feliz. Até o momento que viu que o filho gastava o seu dinheiro com
uma prostituta constantemente, resolvendo mandar o filho estudar na
Europa para tentar resolver o “problema”. 2º, é do caráter
dele ser assim. Os astros estavam nessas posições quando ele nasceu
logo ninguém poderá mudar sua pessoa. Ou, 3º, Brás Cubas é
humano e tem defeitos como qualquer um. E como James Joyce escreveu
seus personagens em Ulysses,
o ser humano muda o modo de agir conforme o dia. Não somos
constantes. Acordamos com um humor e dormimos com outro. Defendo a
terceira teoria. Brás Cubas sabe seduzir quando é preciso, talvez
essa seja a sua grande qualidade. Pois como ele mesmo diz ao fim de
seu livro “ Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o
legado da nossa miséria.”.
Voltemos
às memórias do narrador. Eduardo Lourenço, professor e filósofo
português, discute em um de seus capítulos no livro Portugal
como destino seguido de Mitologia da Saudade o
sentimento de saudade, nostalgia e melancolia. A saudade não seria
apenas recuperar o passado, mas acabar inventando ele. Ou seja, a
saudade são cortes de trechos de nossa vida que não representam o
cotidiano. Com isso, quero dizer que essas supostas memórias de Brás
Cubas podem ter sido inventadas e/ou alteradas já que ao fim de sua
vida ele acabava por delirar. Desconfio que fossem mentiras de Brás
porque a possibilidade de escrever uma narrativa de memórias sem que
aja alteração é muito possível, entretanto, porque ele omitiria
algo se já estava morto? Pergunta a qual não posso responder e que
ninguém além da memória de um defunto autor saberá algo por
definitivo. Acabo aqui esta pequena análise de um personagem
central, que tem uma vida sem grandes ações. Todavia, faz a façanha
de escrever um livro após o último suspiro do corpo que o torna
eternizado.
Fontes
bibliográficas:
BIBLIOTECA
DIGITAL e BANCO DE DADOS DE HISTÓRIA LITERÁRIA – NUPILL .
http://www.literaturabrasileira.ufsc.br /
HTTP://www.machadodeassis.ufsc.br.
BOSI,
Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira, Cultrix, São
Paulo, 1973.
LOURENÇO,
Eduardo. O tempo português. In.: _____. Portugal como destino
seguido de Mitologia da Saudade. 4.ed. Lisboa: Gravita, 2011, p.
87-94.
Venho por meio desta, ... pera aí, isso aqui não é um artigo, um relatório, muito menos outro trabalho de faculdade. Apenas um desabafo de uma pessoa que está em outro mundo. Vamos tentar começar de novo. Boa noite a todos e a todas, estou aqui hoje para tentar mostrar para vocês a minha maior diva no momento. Estava pensando e conversando sobre algumas performances específicas dela que me trazem uma sensação diferente. Já aviso que não sei nomes de notas, não sou profissional no assunto e que da cantora, apenas conheço o básico. Eu a idolatro, mas não costumo pesquisar muito sobre ela. Não sei bem ao certo o motivo.
Bem, vamos começar. Você sabe quando você está assustado com alguma coisa? Tipo, você acorda na madrugada com medo de algo e se cobre com um cobertor para se proteger. Não consegue abrir os olhos. É automático. Comigo aconteceu uma vez, recentemente na verdade, um caso em que eu tremia de medo e com os olhos fechados. Sentia sensações estranhas e diferentes. Se você já sentiu alguma dessas coisas alguma vez, talvez consiga entender o que eu vou escrever. Hoje percebi que quando ouço e vejo algumas apresentações da Christina Aguilera, eu meio que entro em outro plano. Não é por causa da letra porque eu não sei muita coisa do inglês. Mas o ritmo, as notas musicais, a interpretação dela. São muitas coisas boas juntas em um único momento.
Vamos pensar em algumas apresentações. Primeiro veja essa que está aqui a embaixo para entender o que eu quero dizer. Espero que sinta algo.
Então, essa música não é dela. Entretanto, essa apresentação é considerada a terceira melhor do Grammy Awards. Sensações, acionadas. Me lembro que quando eu ouvi pela primeira vez essa apresentação fiquei bugado, como isso poderia ser considerado bom? Entendi apenas há uma hora, quando ao ouvir ela com o fone de ouvido, com o volume alto, e assistir e perceber cada detalhe, me vi naquele palco, fechava o olho e via ela ali. Cantando, interpretando e se entregando.
A entrega dela, para mim, acontece na música inteira. Mas, de forma gradual. Começando de leve e ficando louca. Os melhores momentos para mim de libertação acontecem a partir de 2:08. Caso queira rever. Primeiro a cabeça se mexe de um lado para o outro no ritmo da música e da estrutura que segura o microfone. Depois vem o corpo inteiro abaixado se movendo entre notas. Uma mão se solta da estrutura para um berro, para que em seguida ela volte e a outra mão se solte do microfone para que Christina cante com cara de quem pede muito por algo. Aí, é nesse momento que eu considero o clímax dessa apresentação. Ela sai da pose de comportada e incorpora a música por completo, sendo perfeita. Acaba a música, ela se levanta agradecendo como se nada tivesse acontecido. Foi apenas um momento de loucura e incorporação.
E agora, a segunda apresentação da noite. Christina Aguilera cantando "At Last" no funeral da Etta James.
Da mesma forma que a outra, a performance é gradual. A primeira vez que eu ouvi eu gostei dessa apresentação, mas também me irritei por ter sido num velório. Hoje não penso mais o mesmo. Sinto uma coisa louca por dentro quando ela dá aquele berro final. Como se fosse a sensação de medo que eu falei no começo desse texto, só que uma versão boa. Claro, recomendo que veja todo o vídeo, mas se preferir, vamos direto ao ponto. Coloque em 2:57. Aí ela está terminando uma nota e chegando no clímax da música, se prepare meu bem. Ela vai soltando notas e está sentindo o piano. Se mexe de um lado para o outro com o corpo sem ao menos sair do lugar. A perfeição desse berro, não consigo explicar. Eu vejo esse vídeo e reparo na mudança da posição da língua dela para o berro, nas caras que ela faz durante os berros, os movimentos corporais. Enfim, no final do berro ela parece que vai engolir o microfone com um som abafado. Eu amo isso. E para finalizar, um agudinho com graves intercalados, vulgo, "estou voltando a ser civilizada".
Espero que vocês tenham gostado desse modelo de texto que fiz para vocês. Tem outras apresentações de outras cantoras que eu também curto que fizeram o mesmo. Se soltaram loucamente. Um problema dessas divas da música conseguirem fazer diferentes notas, é que dependendo do momento que elas estão passando na vida, elas tentam mostrar cantando porque merecem reconhecimento. Porém, acabam por exagerar ou colocar notas em suas músicas que apenas enfeitam ela e não vem de dentro, não fazem sentido. Tem casos que a mídia influência por tentar colocar um padrão de beleza na pessoa que faz com que ela perca o fluxo dela e acabe por tropeçar.
Obs: Todos os gifs foram tirados de tumblr encontrados no google.